sábado, 1 de junho de 2013

XII Encontro Brasileiro de Danças Circulares Sagradas


Bendita seja a música, a Dança, o ritmo, os bailarinos!
Dançar me traz a ilusão de voar nas notas da melodia... e nelas me inspirar!
Dançar lembra-me da infância, quando ser bailarina era um sonho, e alimentando minha criança interior me faz sentir plena do agora!
Dançar me remete à juventude, quando trazia a descoberta do par, do contato, do olho no olho, remetendo à alegria da procura, do dar e do receber, da magia do encontro.
Dançar me faz sentir o calor da maturidade, pois tem o sabor da alegria, da esperança de buscar sempre o melhor, de aprender, de buscar a sabedoria do corpo e da alma, auto-cuidar-se, auto-amar-se!
Dançar me lembra sempre que o movimento é o que me cura e que estar na roda e vivenciar tantas amizades, tantos gestos, tantas expressões, tanto AMOR só pode ser a vida, indo e retornando, circular, em espirais...

Muito obrigada à todos os participantes do Encontro!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Círculo


A Dança Circular Sagrada tem muitos símbolos. E não faltarão oportunidades para falar deles aqui... mas o mais nítido e forte é o Círculo.

Os povos sempre dançaram em círculo. Vejam essa foto que tirei em um museu no Chile, de uma escultura retratando uma roda de dançantes datada de mais de 2000 anos atrás...


Porque sempre dançaram em círculo?
Em seu livro "Geometria Sagrada, simbolo e intenção nas estruturas religiosas, Pennick  diz que:
"Se este símbolo está fortemente presente nas danças sagradas, é porque ele atravessa a história, representado e significado em tempos e espaços distintos, marcando a vida humana na sua relação com a natureza. O círculo é uma figura frequente e universalmente empregada e talvez tenha sido mesmo um dos símbolos mais antigos desenhados pela espécie humana".
A forma circular está em toda parte. Micro e macrocosmo oferecem inúmeros exemplos, desde o desenho das células até os planetas, em seus ciclos celestes.
Nas mais diferentes culturas, um dos principais significados do círculo é representar o universo, a unidade de toda essência, a totalidade. O centro representa a origem de todas as coisas.
Tanto na matemática quanto na Geometria, um círculo é o conjunto dos pontos internos de uma circunferência. A circunferência possui características muito especiais, que a diferem de outras figuras planas, como por exemplo, o de ser uma figura que pode ser rodada em torno de um ponto sem modificar sua posição aparente.
Em círculo, somos chamados a perceber nossa identidade com o outro. Ao mesmo tempo em que somos todos iguais - todos estão equidistantes do mesmo centro - também somos seres únicos, cada um com seu modo de participar, envolver e ser envolvido. E assim, trabalha-se o equilíbrio entre o indivíduo e o coletivo.
O círculo é sempre inclusivo.  Outro dia, focalizando no Parque Ibirapuera, um grupo de deficientes visuais aproximou-se e aí declararam que queriam dançar. O círculo se abriu imediatamente, organizando-se de forma muito prática (intercalando o grupo com os dançantes que já estavam lá). Explicando a dança primeiro em palavras, dançamos várias vezes juntos. A força da inclusão do grupo é imediata. As pessoas fluíam com alegria e isso me fez pensar no quanto é importante para todos poderem se sentir incluídos. Isso é ecologia social e profunda!
Outra coisa importante a notar no círculo: sua fluidez! William Valle disse que "um dos motivos que fazem das Danças Circulares algo tão envolvente seja o fato das coreografias se constituírem em fenômenos cíclicos". E concordo com ele. Como na vida, vamos fluindo em sequências que se repetem durante toda a música, mas cada vez que a dançamos, somos melhores e a repetimos com mais competência.
No círculo damos as mãos de forma que a mão esquerda recebe, a mão direita dá. Abrimos os braços e unimos nossos corações através da música.
Também, conforme dançamos, se pudermos filmar a roda de um plano mais alto, vermos lindas mandalas.  A palavra "mandala", vêm do sânscrito, e pode ser traduzida livremente como "círculo", porém, ela é muito mais do que uma simples forma. Ela representa plenitude, e pode ser vista como um modelo para a estrutura organizacional da própria vida - um diagrama que lembra nossa relação com o infinito.

        

quinta-feira, 28 de junho de 2012

O grande coreógrafo francês e reformador da dança, Jean Georges Noverre, resumiu uma vez as suas impressões sobre a dança popular alemã: "A dança nas diferentes regiões alemãs é infinitamente diversificada. A maneira de dançar em uma aldeia é quase que desconhecida na aldeia vizinha. Até mesmo suas músicas para dançar contêm características e movimentos diferentes, mesmo sendo todas elas alegres. Suas danças tem algo de encantador, porque são uma pura obra da natureza... Antigamente, nas diferentes regiões das províncias alemãs, existia um inquebrantável espírito aldeão e comunitário continuamente vivo."

terça-feira, 26 de junho de 2012


FINDHORN

Findhorn, para quem não conhece, é uma antiga vila de pescadores situada mais ou menos a 6 km de Forres, na Baía de Findhorn, no norte da Escócia. É uma "vila" pequena e pacata. Este foi o palco de vários acontecimentos que uniram 3 pessoas muito especiais: Peter Caddy, Eillen Caddy e Dorothy MacLean.
                             


Li um livro na última vez que estive em Findhorn em 2006 sobre a história deles, e vou tentar fazer um pequeno resumo:
Eileen Marion Jessop nasceu em Alexandria, no Egito, filha de pai irlandês, Albert Jessop, diretor do Barclays Bank e de mãe inglesa de nome Muriel. Foi educada em regime de internato em Inglaterra, indo ao Egito somente durante as férias.
Perdeu o pai com 16 anos, quando a família resolveu regressar para a Inglaterra. Aos 18, sua mãe faleceu também.
Em 1939 casou-se com Andrew Combe, e teve 4 filhas e um filho.
Quando estava com 35 anos, seu marido a apresentou para um colega oficial: Peter Caddy, que por ser atraído pelo mundo espiritual, fascinou Eileen. Nesta época, Peter Caddy era casado com Sheena Govan. Os dois se apaixonaram e Eileen não teve medo: contou ao seu marido o que estava acontecendo. Na época, Andrew não só a colocou fora de casa sem direito a nada, bem como a proibiu de ver seus filhos. Peter então, se separa de Sheena e os dois se casam em 1957 e têm 3 filhos.
Ao visitar um santuário em Aswell Lane, em Glastonbury (Sul da Inglaterra), Eileen ouviu pela primeira vez a voz interior que iria conduzi-la pelo resto de sua vida. Eileen designou essa pequena voz como seu Deus interior.
A vida do casal foi muito dificil, e trabalharam juntos em Cluny Hill, gerenciando um castelo que servia de hotel. Eileen seguia sua "intuição" e Peter era um executor, que confiava plenamente na voz interior de sua esposa, o que criou rumores na cidade sobre a forma como eles trabalhavam. Com o tempo, o dono do Hotel achou que isso não condizia com o negócio dele, e os despediu.
Depois de inúteis tentativas, pois não conseguiam outro trabalho, resolveram esperar que a adversidade amainasse. Juntaram todo o dinheiro que ainda lhes restavam, compraram um trailler e foram viver na Baía de Moray, no norte da Escócia. Lá havia um lugar perto de um acampamento para caravanas, denominado Findhorn. Um lugar inóspito, sem dúvida.

                     
                                           Fotos do trailler original

Como eram pessoas com conhecimentos espirituais , compreenderam que algum motivo deveria existir para essa mudança brusca de destino e moradia, e não desprezaram a oportunidade do isolamento obrigatório para prosseguir com seus estudos. Eileen, continuando com suas meditações diárias.
Quando a primavera chegou eles ainda em Findhorn e ainda sem emprego, resolveram trabalhar o solo para dele tirar seu sustento, mas o fariam sem colocar produtos químicos.
Possivelmente por serem totalmente inexperientes em jardinagem e horticultura , não tinham idéias pré-concebidas quanto à qualidade paupérrima do chão que, sendo composto de areia e pedregulho com uma fina camada de terra por cima, dificilmente se prestaria ao plantio de verduras! Puseram mãos à obra e começaram a preparar o local  para a horta.
Um composto foi criado utilizando produtos orgânicos naturais como capim apodrecido, estrume, algas marinhas, resíduos de cevada de uma destilaria vizinha, palha, etc.
Iniciaram a horta com repolhos, calculando que, se vingassem, pesariam em torno de 2 kg cada. O resultado foi desconcertante, pois alguns repolhos chegaram a pesar mais de 20kg cada! O grupo plantou 65 qualidades de verduras, 42 de ervas de cheiro e 21 de frutas.
Os resultados conseguidos começaram a ficar conhecidos e Findhorn foi visitado por um representante do Departamento de Agricultura que pediu licença para tirar uma amostra da "terra" . Quando a examinou imdiatamente declarou que precisaria de pelos menos 80 gramas de sulfato de potássio por metro quadrado. Caddy explicou que não empregava fertilizantes  artificiais ou químicos em Findhorn, ao que o digno representante do Departamento da Agricultura respondeu que os produtos "naturais" eram inadequados  para suprirem as deficiencias do solo. Enfim , levaria a amostra para ser examinada pelo  Departamento Técnico em Aberdeem. Seis semanas  mais tarde voltou trazendo o resultado da análise: não havia deficiências no solo. Perplexo, convidou Caddy a explicar num programa de TV quais os métodos adotados em Findhorn que tornava areia estéril em terra fértil!
A fama de Findhorn começou a correr o mundo e pessoas de todos os países os visitavam . Um pomar também foi formado e os que visitaram o lugar exclamavam que jamais haviam visto tanta abundância de frutas e verduras tão saborosas.
De início, Eileen ficou muito assustada com as pessoas que queriam passar a viver ali com eles, mas acabou mais uma vez confiando em sua voz interior, e aceitou de bom grado a ajuda delas. Com o tempo, uma comunidade se firmou, e depois de muitas transformações, hoje a comunidade é uma Fundação: Findhorn Foundation, uma associação sem fins lucrativos, cujos membros mantêm um modo de vida comunitária e de partilha. Foi uma das primeiras ecovilas a serem formadas, e hoje uma das mais importantes. Recebe, anualmente, a visita de quase 14.000 pessoas de mais de 70 países, com o objetivo de participação em workshops e retiros espirituais.
Dorothy deixou a Fundação em 1973, indo para a América do Norte, onde fundou uma organização educativa.
Em 1979, Peter Caddy abandonou a comunidade e separou-se de Eileen.
Eileen permaneceu na comunidade até 2006, ano em que faleceu. Quando estive lá em julho, ela ainda era viva, mas pouco aparecia na comunidade por já estar muito debilitada.
De acordo com os seus fundadores, Findhorn Foundation não impõe aos seus membros nenhuma doutrina ou crença formal, acreditando que a humanidade está envolvida num processo de expansão evolutiva da consciência, gerando novos comportamentos para a civilização, assim como uma cultura planetária impregnada de valores espirituais.
Um pouquinho de lá:



quinta-feira, 21 de junho de 2012

Dança Circular Nação Potiguar

                
                            Dança circular nação Potiguar, Aldeia São Francisco, PB.

Segundo Beto Silva, descendente indígena, a Festa do Toré é uma rito cultural e religioso realizado pela nação Potiguar uma vez por mês, geralmente na lua cheia para festejar vários eventos, como por exemplo, a colheita. No Dia do Índio a Festa do Toré é mais informal. O objetivo é confraternizar, ou seja, comemorar o encontro com outros povos e celebrar a amizade.Dançam em círculo para celebrar a vitalidade.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

BERNHARD WOSIEN

Bernhard Wosien era um virginiano, nascido em 19 de setembro de 1908 em Masuren (Prússia Oriental), na cidadezinha de Passenheim. Aos 15 anos, ele já era um entusiasta do movimento jovem alemão. Nesta época, foi introduzido ao balé clássico pela mestre bailarina Helga Sweedlund.
Aos 25 anos, já era solista e em 3 anos mais, já era primeiro solista do Teatro Estadual de Berlim. Casou-se com Elfriede, baronesa de Ellrichshausen, e teve 3 filhos.
Os anos de 1948 a 1958 trouxeram a coroação e o auge de sua carreira como bailarino e coreógrafo. Nesta época, ocorreu o encontro com Jurij Winar, que estava incumbido de fundar um ensamble de arte popular sérvio e procurava um mestre de dança. Este passo representou para Bernhard uma mudança voltada para a dança popular, e assim, ele iniciou sua trajetória de dirigir seu amor e seu prazer cada vez mais para as danças dos povos, para a sua riqueza em mitos e poesia (WOSIEN, 2000).
A partir de 1960, dedicou-se à pedagogia, onde atuou até 1986 como docente.
Em 1976, esteve em Findhorn, a convite de Peter e Eillen Caddy. Para o grupo de dançantes ele ensinou tanto danças tradicionais, como suas próprias coreografias, além de, também com eles, apresentar performances de danças, como por exemplo "Hymn of Jesus", e "Theseus and the Minotaur", que são compilações de danças folclóricas e coreografias próprias.
Todo ano, ele voltava a Findhorn, e logo aquele lugar tornou-se um pólo de distribuição das danças.
Segundo Bernhard: "a experiência que acontece externamente, reflete-se internamente. É esta a melhor maneira de se compreender o mundo - através de uma marcha viva .... O encontro com o grupo folclórico forçou o bailarino clássico em mim a reaprender. Senti-me tocado de imediato pela espontaneidade que a dança popular exige, pela rítmica muito mais fortemente diferenciada, que permite ao pé tocar o chão de uma forma completamente diferente".(WOSIEN, 2000)

Devemos à Bernhard Wosien esta percepção, que só é possível entender quando nós mesmos dançamos, quando nós mesmos experenciamos as sensações  de estarmos conectados numa mesma música, através de passos que relembram a essência dos diversos povos, na alegria, na meditação e no movimento.

sábado, 16 de junho de 2012

Minha História nas Danças Circulares Sagradas


Conheço as Danças Circulares Sagradas desde 2005...
Nestes últimos anos tenho recebido uma quantidade enorme de informações e tenho vivenciado tantas emoções e sensações que acredito que é praticamente impossível para alguém continuar a mesma depois disso.
Sinto-me jorrando criatividade, alegria e tenho certeza que tem sido bem mais fácil conviver comigo, pois estou mais paciente, trabalho mais em grupo e a comunicação flui melhor!
Como a dança possibilita estas mudanças?
"Tudo o que move é sagrado e remove as montanhas com todo cuidado, meu amor ..." (Guedes & Bastos, 1986).
MOVER no dicionário: 1. Fazer mudar de lugar, remover. 2. Dar ou comunicar movimento a, pôr em movimento. 3. Exercer movimento com; mexer...
MOVER é a possibilidade de sair do lugar, e isso responde a pergunta - pois o movimento interno reflete o externo. Para mim, a dança permite perceber o nosso lugar na vida, o sentimento, a sensação corporal - e, a partir daí, viabilizar ações concretas.
O dançar sempre esteve presente em minha vida, não só como "movimento", mas principalmente como expressão. A infância envolveu-se com o sonho da bailarina; a juventude, com a irreverência dos anos 80/90, quando sábados e mais sábados resumiam-se a ensaiar: aulas de jazz, afro-jazz, segundo lugar no concurso Nacional de Danças... fora sapateado. Na verdade, dançar é sinonimo de exprimir o ser vivo e pulsante que reside dentro de mim, e que, na maior parte das vezes, não encontra uma forma fácil de se mostrar.
A primeira vez que me vi num círculo foi num momento inesquecível de minha vida: estava  com problemas de saúde. Nem me lembro mais como fiquei sabendo, mas me interessei pelo título: o que seriam essas tais Danças Circulares Sagradas? Fui para o local que anunciava as tais Danças e, quando cheguei, sentei-me para observar. As pessoas se divertiam como crianças. Uma delas se aproximou de mim e me chamou para dançar...no momento em que eu estava, só eu sei o que aquele gesto representou para mim...senti tanto acolhimento, que dancei o dia inteiro. O meu corpo pedia para parar, pois estava debilitado, mas havia encontrado um aconchego  tão grande naqueles círculos de desconhecidos que sorriam para mim, que fui ficando... E com certeza, foi lá que me apaixonei pelas dancas, foi lá que minhas memórias celulares me re-lembraram do quanto eu precisava estar em movimento, e a partir daquele dia, saí da letargia em que me encontrava. E, mais uma vez, a vida estava certa: "quando o discípulo está pronto, o mestre aparece!" 
Estar num círculo amplia minha consciência individual e grupal, pelos jogos, pelas músicas, pela ludicidade, pela meditação, pela ampliação da percepção do corpo, pela energia que se forma, pelas sensações de um respirar profundo, pela vibração, pela pulsação em direção à vitalidade, pelo sagrado de ver-se e ver ao outro, pelo espelho, pelo ritmo e pela paz!
O principal é estar aberta para a vida; e quando isso envolve relacionamentos, a roda é um grande aprendizado de aceitação, paciência, reconhecimento, consideração e amor! O caminho é mesmo as rodas se duplicarem, triplicarem, quadruplicarem... porque o mundo está sedento de mais ecologia nos relacionamentos!
Aí veio o curso de Formação, a viagem para Findhorn... mas isso é história para outros posts...