quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Círculo


A Dança Circular Sagrada tem muitos símbolos. E não faltarão oportunidades para falar deles aqui... mas o mais nítido e forte é o Círculo.

Os povos sempre dançaram em círculo. Vejam essa foto que tirei em um museu no Chile, de uma escultura retratando uma roda de dançantes datada de mais de 2000 anos atrás...


Porque sempre dançaram em círculo?
Em seu livro "Geometria Sagrada, simbolo e intenção nas estruturas religiosas, Pennick  diz que:
"Se este símbolo está fortemente presente nas danças sagradas, é porque ele atravessa a história, representado e significado em tempos e espaços distintos, marcando a vida humana na sua relação com a natureza. O círculo é uma figura frequente e universalmente empregada e talvez tenha sido mesmo um dos símbolos mais antigos desenhados pela espécie humana".
A forma circular está em toda parte. Micro e macrocosmo oferecem inúmeros exemplos, desde o desenho das células até os planetas, em seus ciclos celestes.
Nas mais diferentes culturas, um dos principais significados do círculo é representar o universo, a unidade de toda essência, a totalidade. O centro representa a origem de todas as coisas.
Tanto na matemática quanto na Geometria, um círculo é o conjunto dos pontos internos de uma circunferência. A circunferência possui características muito especiais, que a diferem de outras figuras planas, como por exemplo, o de ser uma figura que pode ser rodada em torno de um ponto sem modificar sua posição aparente.
Em círculo, somos chamados a perceber nossa identidade com o outro. Ao mesmo tempo em que somos todos iguais - todos estão equidistantes do mesmo centro - também somos seres únicos, cada um com seu modo de participar, envolver e ser envolvido. E assim, trabalha-se o equilíbrio entre o indivíduo e o coletivo.
O círculo é sempre inclusivo.  Outro dia, focalizando no Parque Ibirapuera, um grupo de deficientes visuais aproximou-se e aí declararam que queriam dançar. O círculo se abriu imediatamente, organizando-se de forma muito prática (intercalando o grupo com os dançantes que já estavam lá). Explicando a dança primeiro em palavras, dançamos várias vezes juntos. A força da inclusão do grupo é imediata. As pessoas fluíam com alegria e isso me fez pensar no quanto é importante para todos poderem se sentir incluídos. Isso é ecologia social e profunda!
Outra coisa importante a notar no círculo: sua fluidez! William Valle disse que "um dos motivos que fazem das Danças Circulares algo tão envolvente seja o fato das coreografias se constituírem em fenômenos cíclicos". E concordo com ele. Como na vida, vamos fluindo em sequências que se repetem durante toda a música, mas cada vez que a dançamos, somos melhores e a repetimos com mais competência.
No círculo damos as mãos de forma que a mão esquerda recebe, a mão direita dá. Abrimos os braços e unimos nossos corações através da música.
Também, conforme dançamos, se pudermos filmar a roda de um plano mais alto, vermos lindas mandalas.  A palavra "mandala", vêm do sânscrito, e pode ser traduzida livremente como "círculo", porém, ela é muito mais do que uma simples forma. Ela representa plenitude, e pode ser vista como um modelo para a estrutura organizacional da própria vida - um diagrama que lembra nossa relação com o infinito.